Crédito rural lastreado em LCAs atinge R$ 2,7 bilhões

[dropcap]O[/dropcap] governo federal registrou aumento na oferta de crédito rural com base em recursos provenientes das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Em julho e agosto, primeiro bimestre do ano-safra 2016/2017, foram R$ 2,7 bilhões. No mesmo período na temporada 2015/2016, tinham sido R$ 1,5 bilhão.

Do total emprestado nos últimos dois meses, R$ 1,27 bilhão foram a juros controlados, com taxas subsidiadas pelo governo. Os empréstimos com dinheiro da LCA a juros livres, com taxas de mercado, somaram R$ 1,45 bilhão. A maior parte dos financiamentos no primeiro bimestre da safra foi destinada a linhas de custeio.

O volume captado com o título do agronegócio representou 12,67% do volume financeiro total liberado em julho e agosto deste ano dentro do Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017. Considerando todas as linhas de custeio, investimento e comercialização, os agricultores empresariais já tinham emprestado R$ 21,3 bilhões no último bimestre.

As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) são títulos emitidos por instituições financeiras com a intenção de atrair capital para o setor. Tem entre suas principais características a isenção de imposto de renda, visando tornar o investimento atrativo, especialmente, para pessoas físicas.

Para esta safra, a vinculação da LCA ao crédito rural mudou. De acordo com norma do Banco Central (BC), desde primeiro de julho, 35% do saldo médio das carteiras devem ser direcionados para os financiamentos da agropecuária. Até então, a proporção era 50%. Na avaliação do governo, a alteração colocaria R$ 21 bilhões a mais no Plano Safra, R$ 12 bilhões a juros controlados e R$ 9 bilhões a taxas livres.

Enquanto os números parecem indicar que o governo pode atingir o objetivo de elevar a participação dos recursos da LCA no crédito rural nesta safra, há especialistas que adotam uma postura cautelosa. Mauro Mattes, gerente de investimentos da Concórdia Corretora, entende que a mudança feita pelo BC está ajudando a deixar a emissão do título menos atrativa.

Como corretor, Mauro é responsável por intermediar a relação entre o banco emissor e os potenciais investidores, além de fazer a liquidação dos títulos. Essa posição lhe dá condições de monitorar o movimento dos bancos que, segundo ele, estão mais receosos em colocar novas LCA’s em circulação pouco mais de dois meses depois da medida do BC entrar em vigor.

“Instituições de maior porte continuam ausentes ou reduzindo gradativamente suas emissões. Tem banco grande que não está mais emitindo LCA e banco médio que, como o estoque é pequeno, diz que ainda tem margem para emitir ao longo deste ano”, afirma o gerente da Concórdia Corretora, citando como exceção as cooperativas financeiras, que têm ofertado mais.

Números do mercado reforçam a argumentação. O estoque de LCA na BM&FBovespa, que lidera o registro do título no país, caiu de R$ 137,24 bilhões para R$ 136,29 bilhões entre os dias 29 de julho e 31 de agosto deste ano. Neste mês, o volume continuou caindo e chegou a R$ 136,01 bilhões.

Na Cetip, que também faz o registro desses títulos, mas em volumes bem menores, o estoque baixou de R$ 59,6 bilhões para R$ 58,8 bilhões entre 29 de julho e 31 de agosto. No dia 14 de setembro, o volume chegou a R$ 58,4 bilhões. Estoque em queda indica que estão sendo registrados menos títulos em substituição aos que vencem e são liquidados.

Com a menor emissão de LCA, explica Mattes, o volume que ainda é colocado no mercado acaba oferecendo uma rentabilidade mais baixa para o investidor. Na média, a Concórdia Corretora tem identificado uma redução de 3% nas taxas quando é feita uma comparação com o praticado nessa mesma época no ano passado.

Mesmo assim, o gerente de investimentos da empresa afirma que é possível encontrar condições que considera interessantes para o investidor. A isenção do imposto de renda ainda é um fator que mantém a Letra de Crédito do Agronegócio atrativa em meio a um cenário de restrições de acesso a crédito e retração econômica no Brasil.

Para Mauro Mattes, o mercado de LCA deve se tornar mais aquecido a partir da redução da taxa básica de juros da economia para um patamar menor do que 10% ao ano. A Selic está atualmente em 14,25% ao ano e, na avaliação de analistas de mercado, não deve terminar este ano abaixo de 13,75% anuais.

Sem precisar um patamar, ele afirma acreditar nessa redução, com efeitos positivos em 2017. No entanto, reforça o discurso do setor financeiro, de que é necessário o governo ajustar a economia. “Precisamos da aprovação e da efetivação das medidas e reformar para que o país gere a confiança necessária aos agentes da economia como um todo.”

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